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Jovem da Bahia irá coordenar de Rede de Jovens com Tuberculose

ENTREVISTA

Iniciativa inédita quer formar ativistas e tornar mais acessível as questões de diagnóstico e tratamento



 

Por Liandro Lindner

 

 

Igor Rosa da Silva, baiano nordestino de Itabuna, é filho de camponeses do Sul da Bahia, tem sua formação fundada na base do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST).  Estudante do sexto semestre do curso de psicologia da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), encarou o ativismo desde cedo se integrando a movimentos sociais nas lutas por Direitos Humanos e Educação Popular em Saúde. Unindo a crítica política com a arte (sua primeira graduação), procura sempre trazer a reflexão de forma interdisciplinar semeando com arte suas “escrivências”, indagações e inquietudes em busca de um mundo melhor. O HIV surgiu na sua vida como uma nova etapa de luta, se integrou a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens com HIV/Aids e agora se envolve com uma iniciativa que une jovens de diversos países, que foram afetados pela tuberculose. O Brasil será o primeiro país do continente americano a formar esta rede, que foi lançada em Brasília no início de outubro e terá sua primeira integração internacional durante a Conferência Internacional de Tuberculose em Bali, na Indonésia, no final de novembro.

 

PERGUNTAS:

 

1-    Como surgiu a idéia de criação da Rede de Juventudes Afetadas pela Tuberculose ( RJAT)?

A criação da Rede de Juventudes Afetadas pela Tuberculose (RJAT) segue reflexos da visão de Paulo Freire sobre a educação como um ato de liberdade e conscientização. Freire dizia que "ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho: os homens se educam em comunhão". Isso expressa a necessidade de um espaço coletivo onde os jovens possam compartilhar suas experiências e lutar juntos contra os determinantes sociais que afetam a saúde, os quais fazem com que a tuberculose ainda seja um problema de Saúde Pública.

A ideia de criação da Rede de Juventudes Afetadas pela Tuberculose (RJAT-Brasil) surgiu da necessidade de abordar os determinantes sociais de saúde, que impactam a juventude afetada pela TB e as coinfecções. Observou-se que a experiência dos jovens afetados pela tuberculose não estava sendo suficientemente representada nas discussões sobre a doença. Assim, a RJAT se propôs a ser um espaço onde esses jovens pudessem se unir para refletir e lutar contra as vulnerabilidades que enfrentam, promovendo uma educação popular em saúde que considere as especificidades e necessidades da juventude. Podendo construir novos caminhos para o enfrentamento a TB.

 

2-    Quais as questões relacionadas a juventude que você acredita que devem prioridade na prevenção, diagnóstico e tratamento da TB?

As questões da TB que devem ser priorizada entre os jovens incluem o fortalecimento do acesso a informações de saúde de forma inclusiva e compreensível. A conscientização sobre a doença, acesso a informações de saúde adequadas e sensíveis ao contexto juvenil, além da promoção de ambientes de apoio que combatam o estigma. É importante também que o tratamento seja adaptado às necessidades específicas dos jovens, considerando aspectos como saúde mental, educação e suporte social.

 

É vital incorporar a discussão sobre as mudanças climáticas e seus efeitos na saúde, pois esses fatores podem agravar as condições que facilitam a propagação da tuberculose. Além disso, promover um ambiente de apoio e desconstruir o estigma associado à doença são fundamentais para que os jovens se sintam seguros e incentivados a buscar a prevenção, o diagnóstico e tratamento para uma doença que tem cura, mas ainda mata a população brasileira, com foco nas populações empobrecidas.

 

 

 

3-    A RJAT faz parte de uma rede global de ativistas jovens, quais suas expectativas de aproximação com jovens de outros países?

 

Com a RJAT fazendo parte da rede global de ativistas jovens, esperamos que haja um intercâmbio rico de experiências sobre como diferentes contextos tratam a TB. Essa articulação internacional permitirá compartilhar práticas exitosas de educação em saúde e mobilização comunitária, além de fortalecer a solidariedade entre juventudes em diferentes países. Na perspectiva de Paulo Freire, o diálogo e o respeito mútuo são fundamentais para a construção de um saber compartilhado, onde as vivências de cada grupo possam enriquecer a luta coletiva. Ao unirmos forças com jovens de outras partes do mundo, estaremos não apenas abordando a tuberculose, mas também as questões interligadas, como desigualdade social e direitos humanos, construindo um futuro mais justo e saudável para todos.

 

4-    Recente pesquisa publicada, que analisou dez anos de casos de TB em São Paulo, revelou que a maior taxa de abandono do tratamento ocorre entre os adolescentes pretos ou pardos, acima de 11 anos. Como as vulnerabilidades atuam junto aos jovens com TB?

 

As vulnerabilidades que os jovens enfrentam no Brasil em relação à tuberculose estão profundamente conectadas a determinantes sociais como pobreza, racismo e dessas formas de violências. Pesquisa como essa, que aconteceu em São Paulo, destaca a necessidade de abordagens que considerem essas especificidades. A interseção entre raça, classe e saúde é crucial para entender como a juventude lida com a doença e o que pode ser feito para melhorar o acesso ao tratamento e à prevenção. Nossa juventude é morta todos os dias, a vulnerabilidade é um retrato real em nossas vidas. Queremos a juventude viva e juntos poderemos acabar com a TB como problema de Saúde Pública.

 

5-    A criação da RJAT representa uma renovação no movimento de tuberculose, que é o movimento social de saúde mais antigo do Brasil, como você analisa esta responsabilidade e o que espera conquistar?

 

A Constituição Brasileira, o artigo 196 afirma que "a saúde é direito de todos e dever do Estado", sublinhando a importância de garantir acesso à saúde para todos, inclusive os jovens. Assim, ao criar a RJAT, temos a responsabilidade de renovar o movimento social de combate à tuberculose no Brasil e garantir nosso direito à Saúde.  Essa renovação não se trata apenas de ampliar a visibilidade da tuberculose entre os jovens, mas também de levar à frente a necessidade de transformar os caminhos para o fim da TB. Lutamos inclusive   por uma nova vacina antiTB.  A esperança é que, com um movimento juvenil forte e bem articulado, consigamos pressionar por inovações na saúde pública, fortalecer a educação em saúde e trabalhar para um futuro onde a tuberculose não seja mais uma ameaça à vida de nossas comunidades.

 

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